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Cálice de Sangue

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Mensagem por Mestre Qui 10 Nov 2016 - 12:58

Urros e barulhos indescritíveis eram ouvidos ao fundo na umbra, o ar (se é que se pode chamar a atmosfera daquele lugar de "ar") pesava montanhas, dificultando o movimento. Finalmente a fenda de luz se abriu e rompeu o silencio e a escuridão como se fossem apenas um pesadelo ruim, dando lugar ao som da chuva e ao balanço das folhas. A figura humana emergiu daquele mundo de trevas saindo no topo de uma arvore, no tronco mais alto, dando uma boa visão da área que viera averiguar.

O cabelo branco não estava penteado e se espalhava caótico sobre o rosto pálido do homem, que aparentava ser um adulto em torno de 30 anos, o corpo era oculto por um trapo marrom que se mesclava perfeitamente à madeira das arvores, deixando apenas as botas pretas e enlameadas a mostra.
Ele abriu os olhos amarelos e examinou os arredores impassível enquanto verificava que seu olfato seria inútil em um dia de chuva forte como aquele, a sua direita, a cerca de 20 metros, ele finalmente encontrou aquilo que viera procurar.

A floresta se estendia entre as colinas verdes da costa leste da Folha, uma paisagem perfeitamente normal para o lugar se não fosse uma repentina clareira no meio da floresta densa, como se a mão colossal do próprio deus Samsara tivesse arrastado e arrancado uma vasta listra da floresta até as montanhas do oeste, incinerando e vaporizando tudo naquela faixa de terra agora morta e infértil.

- Interessante... - o batedor saltou alguns galhos para chegar até a terra destruída e desceu ao chão, se agachou e passou a mão sobre o solo, examinando os poucos vestígios que sobraram da devastação - Quem ou oque quer que tenha feito isso, estava apenas brincando - ele sorriu - será que finalmente...?

O devaneio foi interrompido quando o ser estranho se deu conta de que não estava sozinho, no meio da faixa de terra obliterada, havia um humano, um garoto de cabelos alaranjados, deitado no meio da chuva próximo a uma pilha de pedras e escombros. Ao se aproximar silenciosamente, o forasteiro notava que a criança parecia morar ali naquela area desolada, percebeu uma arvore oca próxima do garoto com um pequeno circulo de pedras e uma fogueira apagada logo em frente. Mantendo a guarda alta e sempre com suas adagas ao alcance da mão por baixo do trapo, então ele se aproximou:

-Ei garoto... oque ta fazendo aqui? - Ele perguntou ao longe sendo abafado pelo som da chuva, o garoto não respondeu, poderia não ter ouvido, então ele repetiu mais alto e atenuado - Ei! Pivet-

- Vai embora!!! - o garoto gritou sem sequer voltar para seu visitante - Sai da minha casa!! - e se pôs a um choro contido.

Zargon relaxou a guarda e entendeu a situação, achando engraçada a remota possibilidade de ter se comovido de alguma forma, visto que não tinha um coração, literalmente - Tudo bem, eu vou embora então - girou os calcanhares e iniciou uma caminhada para fora da clareira, mas se deteve - antes deu ir, você viu quem fez isso?

- ...sim - o garoto subitamente se virou enérgico para Zargon com os punhos fechados e gritou - eu vou matar ele! Vou ficar forte e matar ele!

- Vai sim... - Zargon disse a si mesmo e sorriu em um misto de orgulho e um prazer morbido, sem se virar.

O garotou agora olhava confuso o forasteiro indo embora, mas aliviado por estar sozinho denovo, ja o mercenário havia novamente experimentado sensações a muito esquecidas, e mais uma vez podia sentir um dos motores mais fortes que um homem poderia ter, que poderia permitir alcançar lugares mais altos que os ceus e mais profundos que o mais ardiloso calabouço, a vingança.

- Que não se afogue neste cálice de sangue, garoto... - Sussurrou para o vento antes de submergir na sombra de uma arvore, desaparecendo completamente.

O sol fraco raiou entre as nuvens, a medida que a chuva dispersava naquela tarde quente.

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